quarta-feira, 6 de março de 2019

Por enquanto.

Certa vez eu li alguma coisa sobre a dor. Era uma frase que falava que é preciso doer como nunca para não doer nunca mais. Ainda dói como nunca.
Ainda é difícil dormir sozinho, mesmo que a cama esteja inconscientemente repleta de roupas e travesseiros. É difícil abrir a cortina no fim de semana e dói ver nosso aquário sem peixes. Ainda dói abrir as gavetas e, hora ou outra, me deparar com algumas coisas suas.
Ainda não consigo planejar alguma viagem de férias, porque não imagino nenhum destino para mim que não tenha sua companhia. Também é difícil ir ao cinema, comer sushi ou pedir pizza sem discutir o sabor com você.
Não consigo, por enquanto, visitar a sessão de casa e jardim das lojas, porque me lembra você. Tenho abandonado, também, o gosto pelo frio, pela chuva e pelos sábados.
Ainda é difícil rir de algo e não poder olhar pro lado na tentativa de saber se você também acharia aquilo engraçado. É pesado estar na roda das horas sem poder esperar o fim do dia pra te ver. Talvez a parte mais difícil seja chegar em casa e não poder subir as escadas rapidinho pra te ver.
Dói ouvir as músicas que conheci com você e aquelas que eu ainda não sei se você conhece, mas acho a sua cara.
Por enquanto está doendo.

sábado, 22 de dezembro de 2018

Ir, para permanecer.

Sempre tivemos uma necessidade visceral de ficar.
Para manter nossos caprichos, contudo, esquecemos que ficar não tem nada a ver com permanecer. E eis que eu resolvo deixar ir, e ir também.

Ir, para que o som da sua risada não seja, com a crueldade do tempo, substituído pelos gritos que a sua ausência produz. Para que o barulho que você fazia subindo as escadas não se confunda com os passos de outras pessoas. Partir para que a memória dos seus olhos recém-acordados não se converta em contatos frios, solitários e impessoais com uma tela de 4,5' mostrando letras que qualquer um podia ter mandado.
Ir para guardar em cada pedaço de mim o seu toque e não esquecer a doçura dos momentos que, aos poucos, serão sufocados se eu ficar. Ir para gravar no olhar quando você me chamava de "amr", quando você me fazia acreditar que, dessa vez, todos os planos dariam certo. Ir, então, para que a beleza dos sonhos não seja soterrada pela realidade, para que os sonhos permaneçam, mesmo que guardados em uma gaiola aberta, com as asas podadas, sem o dom de voar.
Ir, para que a alegria de caminhar ao seu lado não seja encoberta pelos aniversários, natais e tardes de sábado sem você aqui e para que as lembranças que te arrancavam sorrisos não sejam deletadas para que sua memória guarde as lágrimas.

É preciso ir, e te deixar ir, para que possamos voar guardando, lá dentro de nós, uma lembrança doce do que poderíamos ter sido, ao invés do amargor daquilo que nos tornaremos se não formos.

Ir, para permanecer.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Lua

À Lia Almeida



É dificil entender como se sabe, instantaneamente, que uma pessoa fará parte da sua vida.
E, por mais paradoxal que isto pareça, as coisas improváveis são as que mais fazem sentido no final das contas.
Lia era alguém de quem eu apenas ouvia falar. Uma garota diferente que cantava MPB nos barzinhos da cidade, era muito popular,  jogava vôlei muito bem e, ainda por cima, escrevia com o coração.
Era como a lua, da qual a existência eu sabia mas não possuia, em mim, nenhuma pretensão de estar perto.
Depois ela virou aquela menina cantando musica brega no onibus que me fez rir durante uma viagem inteira mas que, ainda assim, não sabia da minha existência, talvez por não ter me notado na cadeira ao lado ou pelo nível de alcool em seu organismo estar um pouco acima da média.
Era encantadora, de longe, eu me lembro.
O que não recordo é em qual momento eu passei a fazer parte da vida dela.
Quem sabe tenha sido no dia em que li  "Sintomas da Lua" e percebi que Lia, a lua e eu tínhamos muito em comum, mais do que eu poderia imaginar; ou então quando ela locou "Cisne Negro" e me olhou com uma cara de "talvez você tenha gostado deste".
Não sei.
Só sei que o olhar, o sorriso e a doçura de Lia me fizeram ter a lua, inteiramente pra mim.
E hoje o presente é outro.
Hoje eu não me vejo sem aquelas velhas quintas-feiras regadas com musica de bom gosto, conversas inteligentes e suaves companhias.
Não me vejo ausente da vida deste ser iluminado, desta grande criatura que não sente vergonha de chorar ou de dizer o que sente. Não me imagino sem seus abraços, o som da sua risada ou as noites desocupadas nas quais dividimos nosso pedaço de céu.
Dividimos a lua.
E, embora nenhum de nós dois nos julguemos sol, aquele que tem luz própria, eu estou MUITO feliz recebendo apenas o suave, singelo e reconfortante brilho da minha Lilia.
Minha flor, minha amiga, minha lua.
Eu te amo, Lia.
Feliz Aniversário.


quinta-feira, 26 de abril de 2012

Correnteza




Tudo se vai.
As coisas correm rápido demais, escapam das mãos, fogem dos olhos e passam.
Passam como se o tempo, n'um surto de desespero, desejasse atingir o máximo de velocidade possível.
Quando a gente vê já é noitinha, quando nos damos conta estamos sozinhos novamente. Um belo dia percebemos a primeira ruga, o primeiro cabelo branco, o derradeiro erro infantil e o inicio de uma gama de erros adultos.
De repente acordamos e sentimos que falta algo. Falta tempo.
E é nesse momento que sentamos, cabisbaixos, e simplesmente olhamos os dias irem embora, as horas rodopiarem, as pessoas sairem e entrarem com desculpas esfarrapadas e papéis de bombom amassados no bolso.
Então nos damos conta de que nada pertence a ninguém, de que o tempo é um empréstimo e que um dia, o rio leva.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A música e eu.


Depois de muito penar, me decidi.
Decidi casar com a música.

Fui pensando, quebrando a cabeça, relembrando quem esteve sempre ao meu lado quando precisei. Me veio à mente um alguém, e outro e mais alguns.
Triste surpresa foi a minha quando descobri que, de todos os belos seres humanos que habitam meus momentos dificeis, nenhum deles é candidato ao "até que a morte os separe", quando se trata do meu coração...
Então me veio ela.
E aí tudo ficou claro.

Vou me casar com a música.

E quando eu acordar bem solar, correrei para os braços de Vanessa, cantarei seu "Ai ai ai" e sairei rodopiando pela casa, imaginando seus vestidos esvoaçantes a me brindar com aquele jeito, aah, aquele jeito...
E a tardinha tomarei um chá com Chico e não me importarei se com ele vierem "João e Maria" para prosearmos enquanto espero que Roberta chegue, de blusa amarela, ensaiando rimas para um "Belo estranho dia de amanhã".
Sairei ostentando satisfação ao lado de Marcelo, para que todos vejam que até mesmo um "Cara estranho" tem seus dias de glória. Para todos descobrirem, enfim, "De onde vem a calma".
Jogarei conversa fora, num banco de praça, com os "Versos mudos" de Marjorie e quem sabe encontrarei a tão dificil "Resposta ao tempo" que Nana tanto procura quando me encontra.

E, quando eu não estiver tão solar assim, curtirei a minha viuvez, relembrando a "Malandragem" de Cássia, sentindo o "Vento no litoral" que Renato me descrevia tão bem e recordando que, um dia, estive com Cazuza "Por quase um segundo".
Deitarei na grama com Nando e deixarei que ele me explique sobre "Os cegos do castelo", enquanto Rita movimenta "Minha vida" pra deixar tudo fora do lugar.

Talvez esse casamento dure pra sempre.
Talvez acabe logo.
Mas certamente ouvirei a coisa certa, na hora certa, da pessoa certa.

Vou me casar com a música.

 

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Distress

Nó na garganta.
Talvez essa sensação tenha se tornado comum com o passar dos tempos, talvez vá passar quando eu não conseguir, novamente, segurar as lágrimas que encherão meus olhos logo mais.
Quem sabe não exista realmente um nó aqui, pode ser que ele tenha sido desfeito pelas circunstâncias.
Mas hoje acordei querendo falar sobre coisas duras e dificeis, querendo fazer alguns pedidos à pessoas que ainda valem a pena.
Não tenho dormido muito bem há dias, meus olhos já apresentam um tom meio escuro que não tinham antes e que sempre achei charmoso nos outros. Em mim está parecendo uma cicatriz, mais uma.
Ao invés de dormir, tenho lido sobre amores felizes, tenho visto borboletas passarem contentes e luas cada vez mais lindas surgirem no céu. Tenho ouvido musicas e visto pessoas e dito mais coisas do que deveria.
E tenho sentido uma enorme angustia.
Angustia por perceber que as coisas que eu escrevo nunca tem destinatário certo, nunca chegarão aos corações que necessito tocar, nunca serão lembradas quando os ventos do tempo passarem.
Angustia profunda ao ver que meu sorriso desbotou, meus cabelos ressecaram e meu olhar morreu. Eu rezei a Deus, todos os dias, que meu olhar não morresse.
Sinto um aperto forte quando lembro do menino que eu era, aquele que todos achavam feliz, carismático. Aquele que dava bom dia, que sorria largo e brincava de pique-esconde aos 19 anos...
Me perdi de mim, aos poucos.
E não tem volta.
E eu, que tanto defendi o amor, suplico que ele nunca mais me apareça.
Que não me traga flores na primavera, que não me aborreça com seu cheiro de manhã e não me engane com suas promessas de que tudo vai terminar bem, porque não vai.
Que ele não me apareça domingo a tarde querendo dividir um chá e muito menos na segunda me deixando contente pra, depois, cortar as asas que me deu e me ver cair ao chão, despedaçado.
Que ele não me prometa sorrisos, não me desperte prazeres e não olhe nos meus olhos.
Porque meus olhos morreram.
Eu suplico ao amor que passe rápido, que não me chame atenção e que me deixe em paz.
Porque eu não aguento mais pensar em sentar na praia de mãos dadas, ir ao cinema ver uma comedia romantica, tomar fanta uva sentado na pracinha pacata, tomar banho de chuva, comer fruta do pé.
Não suporto a idéia de ser feliz pra sempre.
Porque eu não serei feliz.
Não mais.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O sonho.

Eu sonhei que era feliz.
Feliz de um jeito diferente, quase pleno.
Uma borboleta pousou, e voou.
E pareceu pedir pra seguí-la.

Não sei quanto tempo durou
Não sei se foi sonho, sonhado
Mas ela veio e pousou
E me pediu pra segui-la.
E eu corri, fui atrás
E um belo tempo, acordei.

Eu tive um sonho feliz.
E quando acordei, doeu.